segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O amor cobre uma multidão de pecados

Reflexões baseadas na leitura do Capítulo 11 do Evangelho Segundo o Espiritismo: Amar o próximo como a si mesmo 

Por estarmos em estado humano, estamos sujeitos às tentações da vida material, portanto, todos nós pecamos. Pecamos em pensamentos, pecamos em sentimentos, pecamos em nossas ações. 

Cometemos em diferentes escalas cada um dos 7 pecados capitais: Gula, Avareza, Luxuria, Ira, Inveja, Preguiça e Orgulho. Mas, não cabe aqui discorrer sobre cada um deles, até porque é tarefa individual identificar quais nos são mais comuns. Porém, é importante falar sobre o que nos incita a praticá-los. 

Nosso espírito ainda em insipiente evolução se deixa envolver pela dualidade, pelo desejo de ter se confrontando com a necessidade de ser, pelos sentimentos antagônicos de simpatia e antipatia, pelo impulso egoísta que macula o altruísmo. 

Essa dualidade nos causa uma dependência emocional, que muitas vezes, nos impede de acessar uma capacidade inerente a todos nós, a empatia. Daí, sem a disposição para conhecer os pontos de vista e sentimentos alheios, nosso julgamento fica frágil, levando-nos a ações reativas, carregadas de certezas rotas, baseadas em desejos que só consideram nossa satisfação. E se atuamos sem ponderar sobre o que é bom para nós e para os outros, há desequilíbrio. Então, tendemos a pecar, mesmo que tenhamos, aparentemente, a melhor das intenções. 

Nossos pecados se revelam, também, nos preconceitos que sentimos e, que na maioria das vezes, não reconhecemos, mas mesmo assim nos orientam a agir em desacordo com a clara instrução de Jesus: “amar ao próximo como a si mesmo”. 

Como disse, escolhi falar sobre pecado, mas também, quero falar sobre o amor, pois somente através do amor seremos capazes de nos purificar.  Jesus nos ensinou que “o amor cobre uma multidão de pecados”, mas de que amor o mestre falava? 

Do amor que une casais, do amor fraterno, do amor parental, do amor filial? Acredito que a todos, e ao mesmo tempo, a nenhum, pois a forma como vivemos o amor é que determina sua qualidade, sua pureza. 

Amor verdadeiro inspira confiança, não fé cega. 
Amor verdadeiro é desprovido do desejo de ter. 
Amor verdadeiro é libertador, jamais subjuga. 

No Evangelho segundo o Espiritismo, no capitulo 11, em Instruções dos Espíritos nos é ensinado: "O amor é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado... Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano, que cederá, mesmo de malgrado, ao verdadeiro amor. Este é um imã a que ele não poderá resistir, e o seu contato vivifica e fecunda os germes dessa virtude, que estão latentes em vossos corações. A Terra, morada de exílio e de provas, será então purificada por esse fogo sagrado, e nela se praticarão a caridade, a humildade, a paciência, a abnegação, a resignação, o sacrifício, todas essas virtudes filhas do amor". 
  
Mas, então, se somos feitos de virtudes, porque nos deixamos levar por sentimentos nada nobres como raiva, intolerância, medos? Porque temos dificuldade em controlar nossos atos motivados por esses sentimentos? 

Intuo que é exatamente essa dificuldade em reconhecer essa centelha de fogo sagrado que nos leva constantemente a recair no erro e pecar. Mas, o que é preciso fazer para nos permitimos vivenciar esse amor? 

Creio, que o primeiro e importante passo é a auto-aceitação, o reconhecimento das virtudes, sem ostentá-las e das sombras, sem rechaça-las. E para tal, nunca podemos esquecer que estamos numa longa jornada desenvolvimento e que a cada passo, a cada estação experimentamos diferentes estágios evolutivos e a percepção dessa chama amorosa dependerá de quanto nos esforçaremos nesse longo caminhar. 

Ainda no capítulo 11, o Espírito Lázaro diz que "O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais". 
Disse que o homem, no seu início, tem apenas instintos. Aquele, pois, em que os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que do alvo. Para avançar em direção ao alvo, é necessário vencer os instintos a favor dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar a estes, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Os seres menos adiantados são os que, libertando-se lentamente de sua crisálida, permanecem subjugados pelos instintos". 

Então, em nossa jornada terrena muitas vezes confundimos amor com desejo, com posse, com paixão. E levados pelo instinto, pecamos, levados pelas sensações, pecamos. O amor como sentimento por excelência, conforme nos diz Lázaro, não está sujeito a esse vendaval de emoções que nos desequilibra, nos faz egoícos, nos faz pecadores. O amor genuíno nos dá força para pavimentar nossa estrada de desenvolvimento e convidar nossos irmãos a seguir amorosamente o estirão da vida. 

Lázaro ainda nos fala: "O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda a riqueza futura depende do trabalho atual. Então, que possamos cultivar bons sentimentos e encontrar em nossos imos essa flor de eterna beleza e cobrir com suas pétalas a multidão de pecados que cometemos em nossas sucessivas encarnações". 

E que possamos, também, nos perdoar e perdoar a todos aqueles por quem sentimos mágoas e assim remover as máculas de nossos corações. 

Eu acredito no interesse e na capacidade humana de fazer o bem. 

Eu acredito na capacidade humana de amar. De pura e verdadeiramente, amar! 

Gostaria de finalizar com um texto que para mim faz muito sentido e é aplicável ao amor, seja ele Ágape ou Éros. 

Amar é dedicação e entrega. 
Amar é um verbo e o fruto dessa ação é o amor. 
O amor é um exercício de jardinagem. 
Arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja paciente, regue e cuide. 
Esteja preparado porque haverá pragas, secas ou excessos de chuvas, mas nem por isso abandone o seu jardim. 
Ame, ou seja, aceite, valorize, respeite, dê afeto, ternura, admire e compreenda. Simplesmente: Ame!!! 

A inteligência sem amor nos faz perversos. 
A justiça sem amor nos faz implacáveis 
A diplomacia sem amor nos faz hipócritas
O êxito sem amor nos faz arrogantes
A riqueza sem amor nos faz avarentos
A docilidade sem amor nos faz servis
A pobreza sem amor nos faz orgulhosos
A beleza sem amor nos faz ridículos
A autoridade sem amor nos faz tiranos
O trabalho sem amor nos faz escravos
A simplicidade sem amor nos deprecia 
A lei sem amor nos escraviza 
A vida sem AMOR... não faz sentido.


Imagem: Daniel B. Holeman