segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Granar do Trigo

Reflexões baseadas na leitura do Capítulo 27 do Evangelho Segundo o Espiritismo: Pedi e obtereis 

"Um dia, um velho fazendeiro veio a Deus e disse-lhe: 

- Olha, você pode ter criado o mundo, mas preciso lhe dizer uma coisa. 
Você não é fazendeiro. Não sabe nem o bê-a-bá da agricultura. 
Você tem muito o que aprender. 

Ao que Deus respondeu: 
- O que você sugere? 
- Dê-me um ano e permita que as coisas sejam de acordo com a minha vontade. E veja o que acontecerá: não haverá mais pobreza! 

Deus concordou e um ano foi dado ao fazendeiro. Naturalmente, ele pedia e pensava somente no melhor. 
Nada de trovões, de ventos fortes, nenhum perigo para a safra. 
Tudo confortável, aconchegante. 
O fazendeiro estava muito feliz. 
O trigo crescia tanto! 
Quando queria sol, havia sol. 
Quando queria chuva, havia chuva, o tanto que quisesse. 
Nesse ano, tudo estava certo. 
Matematicamente preciso. 
O trigo estava crescendo muito. 

O fazendeiro procurava Deus e dizia: 
- Olhe! Desta vez a safra será tão grande que, por 10 anos, mesmo que as pessoas não trabalhem, haverá comida suficiente! 

Mas quando fizeram a colheita, não havia grãos. O fazendeiro ficou surpreso e perguntou a Deus: 
- o que aconteceu! O que saiu errado? 

E Deus respondeu-lhe: 

- Por não existir desafio, conflito, fricção, já que você evitou tudo de ruim, o trigo permaneceu impotente. 

Uma pequena fricção é uma necessidade. As tempestades, os trovões e os raios são necessários. 

Eles agitam a alma dentro do trigo". 

Guardada a poesia contida nessa parábola, podemos inferir que a conversa do fazendeiro com Deus trata-se de uma oração. É comum ao enfrentarmos dificuldades recorrer às orações, às preces. 

Segundo o Evangelho Segundo o Espiritismo, as condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes, diz ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em secreto. Não fingi orar demasiado, porque não será pelas muitas palavras que serão atendidos, mas pela sinceridade delas. Antes de orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-a, porque a prece não poderia ser agradável a Deus, se não partisse de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. 

Mas, o que é preciso fazer para purificar o coração antes de se por em oração? Quantas mágoas, medos e inseguranças nos dominam e nos afastam de nossa essência? Quantas crenças a cerca de nós mesmos, conscientes ou não, criam barreiras para que possamos nos abrir verdadeiramente em nossas orações. 

Recentemente, falei aqui sobre o perdão e a importância do autoperdão. E mais uma vez esse tema pede passagem. Pois, como haverei de me conectar, de coração puro, com o plano espiritual de luz se não for capaz de buscar a compreensão e o perdão para meus próprios erros e, também, para as faltas alheias? 

E não falo de carregar culpas, pois isso não nos leva a nada, senão dor e incompreensão. Falo, sim, da disposição de trilhar o caminho para a verdadeira reforma intima, que é feito de reconhecimento, auto-aceitação e vontade genuína de mudança. 

É preciso reconhecer a luz e a sombra que habitam nosso coração e a partir disso acolher cada partícula que compõe nossa essência. 

Muitos de nós passamos a vida a justificar nossos infortúnios olhando apenas para fora, buscando nas circunstancias e em outras pessoas as culpas pelas mazelas que porventura estejamos vivendo. 

E rezamos, pedimos a Deus, direta ou indiretamente, que o mal seja de nós afastado, mas pouco ou nada fazemos. Ficamos passivos, aguardando a providência divina para que nossos problemas se resolvam. Há, ainda, outro fator: a teimosia que nos deixa obcecados por atingir determinadas metas e não nos atentamos para as formas e métodos adotados, pouco observamos que mudanças de atitudes são necessárias. E se nossos clamores não forem atendidos, nos sentimos injustiçados, não cuidados. 

A vida nós dá o que precisamos, e não, necessariamente, o que queremos. Pois, o que queremos é, muitas vezes, fruto da vaidade, das paixões que nosso corpo mental inferior abriga. Nosso ego nos prega peças, nos faz crer que caprichos são necessidades. 

Para que nossas preces sejam atendidas, é preciso acessar nosso Eu Espiritual, ter compreensão de suas reais necessidades, aquelas que quando atendidas nos encaminha para a evolução. E para isso é preciso disciplina e desapego. Disciplina, pois o caminho é longo e cheio de curvas e distrações. Desapego, pois é importante reconhecer que nada a nós pertence, salvo o nosso livre-arbítrio. 

Para mim, quando Jesus diz: Não fingi orar demasiado, porque não será pelas muitas palavras que serão atendidos, mas pela sinceridade delas, entendo que essa sinceridade só é possível se tivermos naquele momento da prece esse contato com que há de mais profundo em nossas almas. Se tivermos a compreensão, mesmo que breve, de quem somos. 

Por isso, acredito que o decidido esforço para o autoconhecimento é o caminho para essa conexão verdadeira com o plano espiritual de luz. 

Penso que, se nos colocamos em prece e rogamos alguma graça, devemos ter consciência de que seremos atendidos somente se o pedido for verdadeiramente dirigido à nossa evolução. E, também, não devemos esquecer que nosso pensamento tem um poder inestimável e a vibração do que vai em nossa mente tem papel importante no alcance do que desejamos. 

Se vibrarmos em mágoa, incompreensão e dor, provavelmente, atrairemos energias negativas e sugadoras, porém se nossa vibração se basear em amor e compaixão abriremos os caminhos para a realização. 

E para encerrar, gostaria de lembrar que nossas preces não devem apresentar apenas rogativas, é preciso agradecer à dádiva da vida e todos os dias valorizar essa experiência inestimável que é estar encarnado nesse planeta, que mesmo sendo ainda considerado como um lugar de provas e expiações é rico, belo, diverso e profícuo em oportunidades e bênçãos. 

Que possamos todos ser gratos e bem aproveitar essa oportunidade evolutiva que nos foi concedida. 

Que possamos ser pacientes e tenazes para que alcancemos as graças pedidas em nossas orações. 

Que possamos fazer a nossa parte e granar nosso trigo.