sábado, 10 de março de 2012

Quantos mundos?


Do ensinamento dado pelos Espíritos, resulta que os diversos mundos possuem condições muito diferentes uns dos outros, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes. Dentre eles, há os que são ainda inferiores à Terra, física e moralmente. Outros estão no mesmo grau, e outros lhe são mais ou menos superiores, em todos os sentidos. Nos mundos inferiores a existência é toda material, as paixões reinam soberanas, a vida moral quase não existe. À medida que esta se desenvolve, a influência da matéria diminui, de maneira que, nos mundos mais avançados, a vida é por assim dizer toda espiritual.

Nos mundos intermediários, o bem e o mal se misturam, e um predomina sobre o outro, segundo o grau de adiantamento em que se encontrarem. Embora não possamos fazer uma classificação absoluta dos diversos mundos, podemos, pelo menos, considerando o seu estado e o seu destino, com base nos seus aspectos mais destacados, dividi-los assim, de um modo geral: mundos primitivos, onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e de provas, em que o mal predomina; mundos regeneradores, onde as almas que ainda têm o que expiar adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos felizes, onde o bem supera o mal; mundos celestes ou divinos, morada dos Espíritos purificados, onde o bem reina sem mistura. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e de provas, e é por isso que nela estão expostas tantas misérias.

Os Espíritos encarnados num mundo não estão ligados a ele indefinidamente, e não passam nesse mundo por todas as fases do progresso que devem realizar, para chegar à perfeição. Quando atingem o grau de adiantamento necessário, passam para outro mundo mais adiantado, e assim sucessivamente, até chegarem ao estado de Espíritos puros. Os mundos são as estações em que eles encontram os elementos de progresso proporcionais ao seu adiantamento. É para eles uma recompensa passarem a um mundo de ordem mais elevada, como é um castigo prolongarem sua permanência num mundo infeliz, ou serem relegados a um mundo ainda mais infeliz, por se haverem obstinado no mal.

Minhas Reflexões


Nós espíritas acreditamos que a Terra é um plano de expiação e provas, mas parece que nos esquecemos disso quando nos invadem as sensações de prazer que podemos vivenciar vestindo essa roupa a que chamamos corpo. Assim como, quando lamentamos ter que passar por desventuras, sentir as dores, as tristezas.

Seja na alegria, seja na dor temos a tendência de num primeiro momento considerar apenas essa experiência encarnatória e esquecemos-nos dos tantos mundos que já habitamos e poderemos habitar em nossa jornada evolutiva.

Se nascemos pobres, remediados ou ricos. Se durante a existência isso tudo se transforma, melhorando ou decaindo, isso pertence a um todo maior e não somente a essa experiência terrena. Os sabores e dissabores são oportunidades de desenvolvimento, de melhoria. São lições que podemos com a força de nosso Eu transformar em aprendizados. E nosso livre-arbítrio, que nos permite as escolhas, deve considerar mais do que aquele momento, seja ele doloroso ou prazeroso.

Se na Terra, somos revestidos de matéria e com a matéria interagimos é justo que nos preocupemos com os TER, mas é preciso se conectar com o SER, que veio a esse mundo, viver a experiência encarnatória como oportunidade de desenvolvimento. O TER é importante, mas nunca deve estar desvinculado do projeto evolutivo a que nos propomos, mesmo que seja difícil ter clareza de que projeto é esse, que missão é essa.

Então, se vivemos privações dificuldades, é comum lamentarmos, pois, como ainda temos muito a aprender, na hora do aperto perdemos a capacidade de enxergar com amplidão, olhamos a vida através de um tubo, reduzindo o campo de visão, focando apenas naquilo que escolhemos focar, mesmo que seja sem perceber. E o mesmo podemos dizer sobre os momentos de alegria extrema, quando enlevados queremos manter aquela sensação para sempre.

Seja na dor ou na alegria esquecemos que tudo é transitório, impermanente. E que as aflições e júbilos da vida na terra, são típicos desse plano e que para, se quisermos, viver em planos superiores temos que humildemente aprender essas lições.

Vejo muitos reclamando que tem pouco e consideram injusta essa condição, pois são pessoas de bem, que nada de mal fazem a outros. Mas, não seria essa vivência uma oportunidade para aprender algo sobre abundância? Não seria essa uma chance de refletir profundamente sobre os porquês que se vive a circunstância atual? Não seria, também, o ensejo para encontrar dentro de si a força e a forma para mudar o que é indesejado. Deus não deseja nosso sofrimento, quer apenas nossa evolução. E sinto, que a escolha do caminho é nossa, se será com sofrimento será fruto de nossa decisão. Assim como dizia o poeta, a dor é inevitável, o sofrimento é opcional.

E neste ponto quero falar um pouco da minha percepção sobre resignação. Acredito que aceitar passivamente situações que ferem nossa alma, seja por falta de recursos, seja por questões emocionais, é negar a nossa capacidade de transformação. Resignar-se é aceitar a condição atual, seja qual for, mas encontrar força e amor dentro de si para transformar positivamente a existência, considerando as próprias necessidades e a de todos que nos cercam.

Se não pensarmos nas melhorias da vida material, enquanto encarnados, negamos a importância do próprio corpo físico. Ele é nosso veículo para atuação nesse mundo físico e pq não poderíamos almejar cuidados e prazeres típicos dessa fase evolutiva. Desde, é claro, que a dimensão espiritual e o respeito pelos outros seres (de todos os reinos: mineral, vegetal, animal e humano) sejam cuidados na mesma medida.

O mesmo pode-se dizer daqueles que não conheceram a escassez. O fato de não vivenciá-la, não justifica ignorá-la.

O que quero dizer é que, na minha humilde visão, se não cuidarmos do nosso íntimo e nos esforçarmos para ter uma visão ampliada da vida terrena e de todos os outros mundos citados no Evangelho, ficaremos refém de nós mesmos, apegados às crenças que justificam nossas ações e nos impedem de conhecer outras visões, outras possibilidades.

Gostaria de contar uma história que ouvi recentemente vejo relacionada a essas reflexões:

O filho de uma querida amiga relatou uma experiência que teve na escola. O professor propôs aos alunos um tema e a idéia era apenas debater sobre o assunto, apenas apresentando os pontos de vista sem a defesa apaixonada que habitualmente se tem das próprias convicções. E a pergunta era a seguinte: Os ricos são responsáveis pelos pobres? Depois de algum tempo de conversa percebe-se a polarização: a maior parte da turma acreditava que não, que não tinham “culpa” de terem nascido em famílias abastadas. Do outro lado dizia-se que se tenho mais do que o suficiente, porque não ajudar a quem tem menos. E embora a proposta não fosse defender as convicções pessoais e apenas compartilhá-las, o debate acalorou-se, com cada grupo mantendo seus argumentos como verdade.

Penso que a nós que pouco importa o final desse debate. O que nós é importante é a reflexão sobre esse tema ampliando o ponto de vista que considera apenas essa existência.

E que possamos nos lembrar do simbolismo da passagem bíblica que fala da cura do cego:



Quando Jesus passava, viu um homem que era cego desde o seu nascimento; _ e seus discípulos lhes fizeram esta pergunta: Mestre, a causa de ter este homem nascido cego, é o pecado dele, ou de seus pais?

Jesus lhes respondeu: Não é que ele haja pecado, nem aqueles que o trouxeram ao mundo; mas assim sucede para que as obras do poder de Deus brilhem nele.

Depois de ter dito isso, cuspiu no chão, e tendo feito lama com a saliva, untou com essa lama os olhos do cego, e lhe disse: Ide vos lavar na piscina de Siloé. Ele foi, lavou-se, e voltou com vista.

Seus vizinhos e os que haviam visto antes a pedir esmolas, diziam: Não é este que estava sentado, e que pedia esmolas? Uns respondiam: Sim, é ele; outros diziam: Não, é alguém que com ele se parece. Porém ele lhes dizia: Sou eu mesmo. _ E então lhe perguntavam: Como é que vossos olhos estão abertos? _ Ele lhes respondia: Este homem a quem chamais Jesus fez lama e untou meus olhos, e me disse: Ide à piscina de Siloé, e banhai-vos aí. Eu fui, lavei-me, e vejo.



Então, pergunto-me: O que precisamos fazer para amorosamente tirar a lama de nossos olhos e passar a enxergar além do concreto, do facilmente explicável, do que nos parece obvio, do que é relativo apenas a essa experiência terrena.

E ainda, se Jesus disse: vocês podem fazer muito mais que EU, o que podemos fazer para apoiar nossos irmãos a encontrar sua própria Piscina de Siloé?

E passando a enxergar, o que faremos?

Talentos


Parábola dos Talentos

O Senhor age como um homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores e lhes entregou seus bens. - Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente. - Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou cinco outros. - O que recebera dois ganhou, do mesmo modo, outros tantos. Mas o que recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo.

Passado longo tempo, o amo daqueles servidores voltou e os chamou às contas. - Veio o que recebera cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei. 

Respondeu- lhe o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. 

O que recebera dois talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão, além desses, dois outros que ganhei. 

O amo lhe respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. 

Veio em seguida o que recebeu apenas um talento e disse: Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence. 

O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, - devias pôr o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence. Tirem-lhe, pois, o talento que está com ele e dêem-no ao que tem dez talentos; -porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tira-lhe mesmo o que pareça ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 14 a 30.) 

Minhas Reflexões

Na primeira e superficial leitura dessa parábola, o amo pode parecer um homem cruel e punitivo, afinal ele valoriza quem aumentou sua fortuna e penaliza aquele que, considerando-se zeloso, a enterrou aguardando o retorno do seu senhor. Qual seria então a lição apresentada? O que Jesus em sua sabedoria quis nos dizer com essas palavras? 

Penso que podemos começar analisando o significado da palavra talento. Numa rápida busca no dicionário podemos encontrar as seguintes definições:

Antiga moeda grega
Aptidão invulgar (natural ou adquirida)
Engenho, habilidade, dom. 

Na parábola Jesus refere-se à moeda, mas podemos ampliar nossa compreensão ao pensar nos tantos dons com os quais somos abençoados em nossas existências. São dons que utilizamos para ganhar nosso pão, para cuidar das pessoas queridas, para construir nossas casas, consertar nossos bens. Aprendemos tantas coisas durante uma vida. Uns são bons com números, outros com línguas, alguns hábeis com atividades manuais. Há ainda aqueles que parecem saber ouvir e acalmar as almas aflitas. São tantos talentos que podemos reconhecer em nós e nas pessoas com as quais convivemos. Mas, usamos esses talentos todos ou estamos enterrando-os sem perceber?
Se Deus nos presenteia com talentos vários é porque espera que façamos uso em prol do nosso desenvolvimento e, também, o da humanidade. 

Eu ouço muitas pessoas dizendo sou bom, levo minha vida sem atrapalhar ninguém, não faço mal ao meu semelhante, cuido da minha família, trabalho, ganho a vida honestamente. Isso é louvável, mas seria o suficiente? 

Apenas cuidar da própria vida seria suficiente? Onde mais nossos talentos podem ser bem vindos? Quais são as capacidades e potencialidades que poderíamos lançar mão para fazer um pouco mais do que já fazemos? 

O que estamos fazendo com nossos talentos? O que sabemos e podemos fazer e deixamos de lado ou para depois por estarmos apenas cuidando de nossas vidas? 

O que a alma nos pede no transcorrer da vida e por estarmos ocupados com a nossa rotina, fazemos ouvidos moucos? Seria possível resumir nossos dias em acordar, cuidar das nossas atribuições sem refletir sobre o real significado do que fazemos, do que somos, de nossa missão? 

Sem pensar na semente de sonho que foi plantada em nossas almas? E nos talentos que desenvolvemos para transformar esses sonhos em realidade? 

É claro que, muitas vezes, circunstancias nos fazem tomar decisões que nos afastam das possibilidades de colocar nossos genuínos talentos no mundo. Mas não seriam provas para que saibamos o quanto somos fortes e capazes? Quais são os nossos sonhos abandonados? Quais escolhas deixamos para trás? O que por medo e insegurança deixamos de fazer? 

Sei que muitos sacrifícios nos são exigidos, muitas vezes trabalhamos somente motivados pelos salários, pois não é fácil dar conta da vida, pagar as contas, fazer reservas para o futuro, realizar os pequenos sonhos. 

Mas, às vezes, há um clamor interno para que mudemos de atividade, mas por receio e acomodação não arriscamos novos passos e com isso perdemos oportunidade de desenvolver talentos e colocá-los a serviço do mundo. 

Por estarmos numa grande caminhada de desenvolvimento, imagino que muitas dificuldades são colocadas em nosso caminho, não para nos atrapalhar a jornada, e sim para nos fortalecer e nos manter no caminho. E os talentos e sonhos são as ferramentas que devemos lançar mão para afastar essas pedras, permitindo que sigamos adiante. 

Mas, é fundamental que dediquemos tempo e esforço para compreender quais são nossos talentos. Aristóteles disse: “Onde cruzam meus talentos e paixões com as necessidades do mundo, lá está o meu lugar”. 

E quando encontramos esse lugar e nele usamos nossos talentos, parece que eles se multiplicam. Se os guardamos, acontece o inverso: atrofiam como se fosse um músculo privado de atividade. 

Mas, qual seria a relação dos nossos talentos com nossos sonhos? Inclusive aqueles abandonados ou aqueles não percebidos? 

Gostaria de substituir a metáfora da moeda para a da semente e perguntar: em que solo estamos plantando nossas sementes. 

Não seriam nossos sonhos reflexos dos contratos que fizemos antes de reencarnar nessas vidas. Não seriam os sonhos as sementes que temos que tirar da dormência e procurar terra fértil para que germinem? 

Penso que é urgente refletir sobre onde estamos jogando nossas sementes: num fértil solo ou sobre o cimento? 

E se pensarmos não somente em nós? E se ampliarmos nossa reflexão além das nossas existências e pensarmos na humanidade? Se nossa realização está diretamente ligada ao bom uso dos talentos não seria equivocado afirmar que ao nos realizarmos o mundo também é beneficiado? 

Eu acredito, que quando trabalhamos, seja para uma empresa, seja para um projeto, em casa, seja voluntaria ou remuneradamente, utilizamos nossos talentos, mesmo que tenhamos pouca consciência disso. Eles vão à pratica no dia a dia, quando executamos as tarefas a nos atribuídas e também, quando cuidamos para manter relações saudáveis com os outros, assim como o fazemos para compreender o que nos conecta verdadeiramente aquele trabalho. 

Mas, os talentos não se revelam somente no trabalho. Eles podem ser necessários em tantas outras situações da vida e para isso é preciso atenção, desapego e dedicação. Olhemos a nossa volta, o que podemos fazer com o coração entregue para contribuir para o desenvolvimento da humanidade?

Se sei escrever, esse é um talento.
Se sou bom ouvinte, esse é um talento.
Se sou perspicaz, esse é um talento.
Se sou organizada, esse é um talento.
Se sou questionadora, esse é um talento.
Se sei plantar, esse é um talento.
Se sei limpar a casa, esse é um talento.
Se sei informática, esse é um talento.
Se sei dirigir, esse é um talento.
Se sei contar histórias, esse é um talento.
Se sei cozinhar, esse é um talento.
Se sei costurar, esse é um talento.
Se sei fazer contas, esse é um talento.
Se sei ensinar, esse é um talento

Sim, há muitas formas de manifestar nossos talentos. A pergunta que fica é: como posso colocá-los a serviço do mundo? Como posso ganhar a vida e meu sustento com brilho nos olhos? Como posso doar um pouco do que já recebi? Como posso identificar o que já recebi? 

Como saber se não estou enterrando meus talentos? Como saber se não estou jogando minhas sementes de sonho no cimento? 

Não há resposta pronta, tampouco, definitiva. Mas, se cada um de nós, com coragem e amorosidade, olhar para a própria história, provavelmente encontrará fios que precisam ser reconectados, sonhos que desejam ser realizados e talentos adormecidos pedindo para serem acordados. Não importa se, com nossas habilidades, vamos ganhar nosso pão ou simplesmente doar ao mundo algo bom, o que vale é não enterrar nossos talentos e transformá-los em frondosas arvores que oferecem sombra e alimento para a humanidade. 

O Buraco da Agulha


Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon.

Uma das parábolas que aborda o tema conta que um jovem se aproximou de Jesus e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida eterna?

- Respondeu Jesus: Por que me chamas bom? Bom, só Deus o é. Se queres alcançar a vida eterna, guarda os mandamentos.

- Que mandamentos? retrucou o mancebo.

Disse Jesus: Não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não darás testemunho falso. - Honra a teu pai e a tua mãe e ama a teu próximo como a ti mesmo.

O moço lhe replicou: Tenho guardado todos esses mandamentos desde que cheguei à mocidade. Que é o que ainda me falta?

- Disse Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.

Ouvindo essas palavras, o moço se foi todo tristonho, porque possuía grandes haveres.

- Jesus disse então a seus discípulos: Digo-vos em verdade que é bem difícil que um rico entre no reino dos céus. - Ainda uma vez vos digo: É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus. 



Minhas reflexões
Mamon é um termo, derivado da Bíblia, usado para descrever riqueza material ou cobiça, mas as sábias falas de Jesus, sempre tão cheias de metáforas, podem ser lidas de maneira mais abrangente. Penso que Jesus não se referia somente a bens materiais, fortunas, boa casa, bom carro, dinheiro no banco, patrimônio. Imagino que não falava somente do que é tangível, mensurável e ostentável.

Identificar o apego ao que é material é relativamente fácil. Usamos verbos e pronomes para indicar nossas posses: Isso é meu, eu tenho, eu fiz... Guardamos coisas sem questionar a necessidade, quando fazemos a limpa no guarda-roupa há uma ou outra peça que volta para o cabide. Às vezes, deixamos de emprestar, por exemplo, um livro que poderia servir ao outro por receio de não recebê-lo de volta. Mas, esses exemplos falam do que é palpável: um livro, uma roupa. Mas, e o apego às idéias, crenças, convicções?

Jesus, quando usou a imagem do buraco da agulha, possivelmente referia-se a um portão existente em Jerusalém que por ser tão pequeno e estreito, um camelo não poderia atravessá-lo sem que estivesse sem bagagem e reclinado.

Analisando essa metáfora, ouso dizer que a bagagem carregada por esse camelo é composta além de bens materiais, do conjunto de crenças não questionadas que carregamos vida afora.

O que há em nossa bagagem? Como temos nos conduzido pela vida? Quais são as antigas e enrijecidas crenças que necessitamos rever? O que em nossas mentes se fecha para o novo? A que idéias nos apegamos e assim nublamos nossos olhos para outras possibilidades? O que nos faz acreditar que estamos sempre certos? Sinto que é preciso nos livramos dessa riqueza ilusória das certezas vãs. Certezas, que como espíritas acreditamos, que podem nos acompanhar por várias existências.

Por apego, podemos nos limitar e, assim, não enxergar que é o novo. O que tem frescor só nasce se deixarmos morrer o velho. Falo da morte como transformação, como momento de transição, e para isso, penso que é necessário aprender a confiar no intangível, no imponderável para aprender o desapego.

Sim, penso, que o desprendimento pode ser aprendido. E essa lição a vida nos dá freqüentemente. Porém na maioria das vezes, reclamamos das experiências que frustram nossas expectativas e não reconhecemos as lições, logo não as transformamos em aprendizados para nos guiar no caminho que segue.

Penso, também, no camelo reclinado às portas do “Buraco da Agulha” e isso me remete à humildade. E para sermos humildes, para realizar uma mudança profunda e cruzar o “Buraco da Agulha”, precisamos desfazer-nos da nossa própria bagagem, de tudo o que não é essencial: necessidades de nossos egos e reputação, apegos a resultados específicos e expectativas sobre o que precisa acontecer. A mudança pede que desaprendamos coisas que acreditamos ser verdadeiras.

É preciso saber, para cruzar o Buraco da Agulha, que por estarmos encarnados, carecemos da matéria, mas é imperioso questionar quais são nossas reais necessidades, sejam materiais ou imateriais.

Rudolf Steiner, um grande estudioso que viveu entre o final do século 19 e início do século 20, escreveu algo muito apropriado sobre esse tema:

Eis, um lema os homens devem empunhar, caso contrário não haverá progresso em nossos tempos insanos:

· procurem a vida realmente prática e material, mas procurem-na de modo que ela não os torne insensíveis ao espírito que nela atua.

· procurem o espírito, mas não o procurem com volúpia metafisica, por egoísmo metafisico; procurem-no por quererem usa-lo desinteressadamente na vida prática, no mundo material.

· observem o velho princípio "espírito nunca sem matéria, matéria nunca sem espírito", de modo a poderem dizer": queremos realizar toda ação material à luz do espírito, e queremos procurar a luz do espírito de modo tal que ela nos desenvolva calor para nossa ação prática".

O Evangelho segundo o Espiritismo ainda nos traz a seguinte reflexão:

Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, idéia que repugna à razão. Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. E o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão. Mas, do fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não se segue que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe servir-se, como certos venenos podem restituir a saúde, se empregados a propósito e com discernimento.

Quando Jesus disse ao moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna: "Desfase-te de todos os teus bens e segue-me", não pretendeu, decerto, estabelecer como princípio absoluto que cada um deva despojar-se do que possui e que a salvação só a esse preço se obtém; mas, apenas mostrar que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Aquele moço, com efeito, se julgava quite porque observara certos mandamentos e, no entanto, recusava-se à idéia de abandonar os bens de que era dono. Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo de adquiri-la com sacrifício.

O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu pensamento. Ele podia, sem dúvida, ser um homem perfeitamente honesto na opinião do mundo, não causar dano a ninguém, não maldizer do próximo, não ser vão, nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe. Mas, não tinha a verdadeira caridade; sua virtude não chegava até à abnegação. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio: "Fora da caridade não há salvação".

A conseqüência dessas palavras, em sua acepção rigorosa, seria a abolição da riqueza por prejudicial à felicidade futura e como causa de uma imensidade de males na Terra; seria, ao demais, a condenação do trabalho que a pode granjear; conseqüência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é lei de Deus.

Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade. E a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem.

Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Mas, acredito que essa melhoria só será possível se nos abrirmos para o novo que nos chama e nossos ouvidos teimosos insistem em apenas ouvir o já conhecido. É urgente pensar em como integrar e para isso é necessário avaliar do cada um de nós pode abrir mão em função do todo.

Penso que se faz urgente aliar esse pensamento ligado à melhoria material no planeta ao desapego de idéias já vencidas. É preciso superar nossos medos, desprender-se das identidades antigas, aquelas em que construímos a imagem do que somos. Mas somos ao mesmo tempo muito mais e muito menos que essa imagem.

Precisamos desapegar do que pensamos que somos para viver plenamente o que somos, seres em evolução, numa longa e árdua jornada de desenvolvimento.

Então, acredito que um rico pode entrar no reino dos céus, mas é de outra riqueza que falo. Falo da abundancia de bondade, humildade e desapego.

E, eu, francamente, me percebo no inicio dessa caminhada. Ainda há muito chão a ser trilhado, muitas pedras pelo caminho e muitas lições, que rogo, possa vir a aprender.


A primeira pedra




Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, VII: 1-2). 

Então lhe trouxeram os escribas e os fariseus uma mulher que fora apanhada em adultério, e a puseram no meio, e lhe disseram: Mestre, esta mulher foi agora mesmo apanhada em adultério; e Moisés, na Lei, mandou apedrejar a estas tais. Qual é a vossa opinião sobre isto? Diziam pois os judeus, tentando-o, para o poderem acusar. Jesus, porém, abaixando-se, pôs-se a escrever com o dedo na terra. E como eles perseveraram em fazer-lhes perguntas, ergueu-se Jesus e disse-lhes: Aquele dentre vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra. E tornando a abaixar-se, escrevia na terra. Mas eles, ouvindo-o, foram saindo um a um, sendo os mais velhos os primeiros. E ficou só Jesus com a mulher, que estava no meio, em pé. Então, erguendo-se, Jesus lhe disse: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Nem eu tampouco te condenarei; vai, e não peques mais. (João, VIII: 3-11). 





Minhas Reflexões

O julgamento é algo inerente ao ser humano. Se aqui estamos encarnados é porque ainda há muito em nós a ser desenvolvido. E a cada reencarnação nós é dada a oportunidade de aprender a lidar com as imperfeições humanas e desenvolver a capacidade compreensão de si próprio e dos outros.
 
Mas, esse é um caminho que exige do caminhante determinação, coragem e humildade, pois durante a existência terrena somos continuamente postos a prova. Em nossa sociedade atual em que estamos expostos e, também, nos expomos voluntariamente através das redes sociais e veículos de comunicação julgamos e somos alvo de julgamentos o tempo todo. 

As diversas formas de pensar, de se vestir, de agir, de se manifestar são alvos de julgamentos. Sem perceber rotulamos as pessoas e criamos categorias, como se fosse possível resumir um ser humano de forma a reduzi-lo a um rotulo. Costumamos dizer, por exemplo, que os motoboys são irresponsáveis. Sim é fácil observar nas ruas da cidade atos inconseqüentes de alguns, mas não paramos para pensar naquele ser em sua totalidade: quais serão suas necessidades?, o que o fez escolher essa profissão tão cheia de riscos?, pq pilotam suas motocicletas com aparente imprudência? Não, não fazemos essas perguntas, não nos interessamos por aquele ser. O que fazemos é imediatamente julgar e declará-lo irresponsável. 

E o pior, acreditamos nos rótulos e nos referimos e nos comportamos diante das pessoas a partir do julgamento que delas fizemos. 

Recentemente, recebi por email fotos que mostravam a coleta de ovos de tartarugas às margens do rio Solimões, à beira de um assentamento do MST. 
O texto carregado de julgamentos, execrava os assentados, julgando-os por roubar os ovos para vender. O meu impulso foi de repassar a mensagem a meus contatos, para servir de alerta e quem sabe acabar com essa pratica. Mas, felizmente algo me fez parar e refletir sobre aquelas fotos e textos. 

As imagens são impactantes, é verdade, porém é preciso olhar além delas para compreender o que faz essas pessoas “colherem” os ovos de tartaruga. Por conta do meu trabalho, tenho contato com alguns assentados e saber um pouco da história deles me permite compreender, embora não aprove, atitudes como essa. 

Os acampados ou assentados são em sua maioria pessoas simples que lutam para ter algo nas panelas para alimentar a família. Consigo, sem muito esforço, entender o que os fazem encher sacos e sacos com os ovos. 

Quero deixar claro que não estou defendendo ninguém, apenas sinto que temos o dever moral de olhar para os vários lados da questão e essas fotos e textos mostram apenas um lado. 

Talvez eu consiga ter essa visão mais ampliada sobre a questão porque a vida me permitiu conhecer um pouco dessa gente que luta bravamente para dar conta das suas necessidades básicas e que, infelizmente, tem pouco acesso às informações e conceitos que poderiam ampliar suas consciências. Mas, pergunto-me se eu não julgaria da mesma forma se não os conhecesse um pouco? 

Penso que aí está nosso grande desafio, cuidar dos nossos julgamentos mesmo que nos falte conhecimento. Sinto que é nossa obrigação buscar as informações necessárias para saber o que faz alguém agir dessa ou daquela forma. É preciso humildade para aceitar que pouco sabemos sobre nós mesmos, quanto mais sobre os outros. 

Não consigo enxergar outra forma de não nos deixarmos levar pelos julgamentos senão pelo desenvolvimento da empatia, a capacidade humana de se colocar no lugar do outro. E isso só é possível, em minha opinião, se nos dedicarmos a conhecer nosso próprio lugar, se tivermos consciência de nossos próprios erros e limitações. É preciso aprender a ser humilde e desenvolver a capacidade de perdoar, genuinamente perdoar. Aos outros e a si próprio.

Os primeiros passos

Caros amigos,

Este será o 3° blog que manterei. 
Além do Pacto Poético http://pactopoetico.blogospot.com que desnuda minha alma em poesia e do Formando Imagens http://formandoimagens.blogspot.com que acolhe minha visão sobre o que vejo "por aí", vou cuidar dessa nova cria que vai abrigar minhas percepções sobre o desenvolvimento humano no que tange a evolução espiritual.
Nele apresentarei, sem a menor intenção de falar em verdades absolutas (acho que nem acredito na existência delas), a minha visão sobre o que  envolve a experiência terrena e a aquela vivenciada fora desse corpo físico que por ora nos serve de vestimenta.
Espero que seja um espaço de troca, pois a área de comentários estará a disposição de todos, qualquer que seja a opinião.
As publicações iniciais são os textos que preparo para as palestras que vez ou outra faço no Centro Espírita que frequento, O Grupo Kardecista de Apometria Tereza D´Ávila, conhecido como Casinha Azul, um lugarzinho acolhedor que atende a todos que chegam necessitando de apoio.
Sejam bem vindos!

Com gratidão e amorosidade

Sandra