Nos mundos intermediários, o bem e o mal se misturam, e um predomina sobre o outro, segundo o grau de adiantamento em que se encontrarem. Embora não possamos fazer uma classificação absoluta dos diversos mundos, podemos, pelo menos, considerando o seu estado e o seu destino, com base nos seus aspectos mais destacados, dividi-los assim, de um modo geral: mundos primitivos, onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e de provas, em que o mal predomina; mundos regeneradores, onde as almas que ainda têm o que expiar adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos felizes, onde o bem supera o mal; mundos celestes ou divinos, morada dos Espíritos purificados, onde o bem reina sem mistura. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e de provas, e é por isso que nela estão expostas tantas misérias.
Os Espíritos encarnados num mundo não estão ligados a ele indefinidamente, e não passam nesse mundo por todas as fases do progresso que devem realizar, para chegar à perfeição. Quando atingem o grau de adiantamento necessário, passam para outro mundo mais adiantado, e assim sucessivamente, até chegarem ao estado de Espíritos puros. Os mundos são as estações em que eles encontram os elementos de progresso proporcionais ao seu adiantamento. É para eles uma recompensa passarem a um mundo de ordem mais elevada, como é um castigo prolongarem sua permanência num mundo infeliz, ou serem relegados a um mundo ainda mais infeliz, por se haverem obstinado no mal.
Minhas Reflexões
Nós espíritas acreditamos que a Terra é um plano de expiação e provas, mas parece que nos esquecemos disso quando nos invadem as sensações de prazer que podemos vivenciar vestindo essa roupa a que chamamos corpo. Assim como, quando lamentamos ter que passar por desventuras, sentir as dores, as tristezas.
Seja na alegria, seja na dor temos a tendência de num primeiro momento considerar apenas essa experiência encarnatória e esquecemos-nos dos tantos mundos que já habitamos e poderemos habitar em nossa jornada evolutiva.
Se nascemos pobres, remediados ou ricos. Se durante a existência isso tudo se transforma, melhorando ou decaindo, isso pertence a um todo maior e não somente a essa experiência terrena. Os sabores e dissabores são oportunidades de desenvolvimento, de melhoria. São lições que podemos com a força de nosso Eu transformar em aprendizados. E nosso livre-arbítrio, que nos permite as escolhas, deve considerar mais do que aquele momento, seja ele doloroso ou prazeroso.
Se na Terra, somos revestidos de matéria e com a matéria interagimos é justo que nos preocupemos com os TER, mas é preciso se conectar com o SER, que veio a esse mundo, viver a experiência encarnatória como oportunidade de desenvolvimento. O TER é importante, mas nunca deve estar desvinculado do projeto evolutivo a que nos propomos, mesmo que seja difícil ter clareza de que projeto é esse, que missão é essa.
Então, se vivemos privações dificuldades, é comum lamentarmos, pois, como ainda temos muito a aprender, na hora do aperto perdemos a capacidade de enxergar com amplidão, olhamos a vida através de um tubo, reduzindo o campo de visão, focando apenas naquilo que escolhemos focar, mesmo que seja sem perceber. E o mesmo podemos dizer sobre os momentos de alegria extrema, quando enlevados queremos manter aquela sensação para sempre.
Seja na dor ou na alegria esquecemos que tudo é transitório, impermanente. E que as aflições e júbilos da vida na terra, são típicos desse plano e que para, se quisermos, viver em planos superiores temos que humildemente aprender essas lições.
Vejo muitos reclamando que tem pouco e consideram injusta essa condição, pois são pessoas de bem, que nada de mal fazem a outros. Mas, não seria essa vivência uma oportunidade para aprender algo sobre abundância? Não seria essa uma chance de refletir profundamente sobre os porquês que se vive a circunstância atual? Não seria, também, o ensejo para encontrar dentro de si a força e a forma para mudar o que é indesejado. Deus não deseja nosso sofrimento, quer apenas nossa evolução. E sinto, que a escolha do caminho é nossa, se será com sofrimento será fruto de nossa decisão. Assim como dizia o poeta, a dor é inevitável, o sofrimento é opcional.
E neste ponto quero falar um pouco da minha percepção sobre resignação. Acredito que aceitar passivamente situações que ferem nossa alma, seja por falta de recursos, seja por questões emocionais, é negar a nossa capacidade de transformação. Resignar-se é aceitar a condição atual, seja qual for, mas encontrar força e amor dentro de si para transformar positivamente a existência, considerando as próprias necessidades e a de todos que nos cercam.
Se não pensarmos nas melhorias da vida material, enquanto encarnados, negamos a importância do próprio corpo físico. Ele é nosso veículo para atuação nesse mundo físico e pq não poderíamos almejar cuidados e prazeres típicos dessa fase evolutiva. Desde, é claro, que a dimensão espiritual e o respeito pelos outros seres (de todos os reinos: mineral, vegetal, animal e humano) sejam cuidados na mesma medida.
O mesmo pode-se dizer daqueles que não conheceram a escassez. O fato de não vivenciá-la, não justifica ignorá-la.
O que quero dizer é que, na minha humilde visão, se não cuidarmos do nosso íntimo e nos esforçarmos para ter uma visão ampliada da vida terrena e de todos os outros mundos citados no Evangelho, ficaremos refém de nós mesmos, apegados às crenças que justificam nossas ações e nos impedem de conhecer outras visões, outras possibilidades.
Gostaria de contar uma história que ouvi recentemente vejo relacionada a essas reflexões:
O filho de uma querida amiga relatou uma experiência que teve na escola. O professor propôs aos alunos um tema e a idéia era apenas debater sobre o assunto, apenas apresentando os pontos de vista sem a defesa apaixonada que habitualmente se tem das próprias convicções. E a pergunta era a seguinte: Os ricos são responsáveis pelos pobres? Depois de algum tempo de conversa percebe-se a polarização: a maior parte da turma acreditava que não, que não tinham “culpa” de terem nascido em famílias abastadas. Do outro lado dizia-se que se tenho mais do que o suficiente, porque não ajudar a quem tem menos. E embora a proposta não fosse defender as convicções pessoais e apenas compartilhá-las, o debate acalorou-se, com cada grupo mantendo seus argumentos como verdade.
Penso que a nós que pouco importa o final desse debate. O que nós é importante é a reflexão sobre esse tema ampliando o ponto de vista que considera apenas essa existência.
E que possamos nos lembrar do simbolismo da passagem bíblica que fala da cura do cego:
Quando Jesus passava, viu um homem que era cego desde o seu nascimento; _ e seus discípulos lhes fizeram esta pergunta: Mestre, a causa de ter este homem nascido cego, é o pecado dele, ou de seus pais?
Jesus lhes respondeu: Não é que ele haja pecado, nem aqueles que o trouxeram ao mundo; mas assim sucede para que as obras do poder de Deus brilhem nele.
Depois de ter dito isso, cuspiu no chão, e tendo feito lama com a saliva, untou com essa lama os olhos do cego, e lhe disse: Ide vos lavar na piscina de Siloé. Ele foi, lavou-se, e voltou com vista.
Seus vizinhos e os que haviam visto antes a pedir esmolas, diziam: Não é este que estava sentado, e que pedia esmolas? Uns respondiam: Sim, é ele; outros diziam: Não, é alguém que com ele se parece. Porém ele lhes dizia: Sou eu mesmo. _ E então lhe perguntavam: Como é que vossos olhos estão abertos? _ Ele lhes respondia: Este homem a quem chamais Jesus fez lama e untou meus olhos, e me disse: Ide à piscina de Siloé, e banhai-vos aí. Eu fui, lavei-me, e vejo.
Então, pergunto-me: O que precisamos fazer para amorosamente tirar a lama de nossos olhos e passar a enxergar além do concreto, do facilmente explicável, do que nos parece obvio, do que é relativo apenas a essa experiência terrena.
E ainda, se Jesus disse: vocês podem fazer muito mais que EU, o que podemos fazer para apoiar nossos irmãos a encontrar sua própria Piscina de Siloé?
E passando a enxergar, o que faremos?