sábado, 10 de março de 2012

Talentos


Parábola dos Talentos

O Senhor age como um homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores e lhes entregou seus bens. - Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente. - Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou cinco outros. - O que recebera dois ganhou, do mesmo modo, outros tantos. Mas o que recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo.

Passado longo tempo, o amo daqueles servidores voltou e os chamou às contas. - Veio o que recebera cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei. 

Respondeu- lhe o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. 

O que recebera dois talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão, além desses, dois outros que ganhei. 

O amo lhe respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. 

Veio em seguida o que recebeu apenas um talento e disse: Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence. 

O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, - devias pôr o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence. Tirem-lhe, pois, o talento que está com ele e dêem-no ao que tem dez talentos; -porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tira-lhe mesmo o que pareça ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 14 a 30.) 

Minhas Reflexões

Na primeira e superficial leitura dessa parábola, o amo pode parecer um homem cruel e punitivo, afinal ele valoriza quem aumentou sua fortuna e penaliza aquele que, considerando-se zeloso, a enterrou aguardando o retorno do seu senhor. Qual seria então a lição apresentada? O que Jesus em sua sabedoria quis nos dizer com essas palavras? 

Penso que podemos começar analisando o significado da palavra talento. Numa rápida busca no dicionário podemos encontrar as seguintes definições:

Antiga moeda grega
Aptidão invulgar (natural ou adquirida)
Engenho, habilidade, dom. 

Na parábola Jesus refere-se à moeda, mas podemos ampliar nossa compreensão ao pensar nos tantos dons com os quais somos abençoados em nossas existências. São dons que utilizamos para ganhar nosso pão, para cuidar das pessoas queridas, para construir nossas casas, consertar nossos bens. Aprendemos tantas coisas durante uma vida. Uns são bons com números, outros com línguas, alguns hábeis com atividades manuais. Há ainda aqueles que parecem saber ouvir e acalmar as almas aflitas. São tantos talentos que podemos reconhecer em nós e nas pessoas com as quais convivemos. Mas, usamos esses talentos todos ou estamos enterrando-os sem perceber?
Se Deus nos presenteia com talentos vários é porque espera que façamos uso em prol do nosso desenvolvimento e, também, o da humanidade. 

Eu ouço muitas pessoas dizendo sou bom, levo minha vida sem atrapalhar ninguém, não faço mal ao meu semelhante, cuido da minha família, trabalho, ganho a vida honestamente. Isso é louvável, mas seria o suficiente? 

Apenas cuidar da própria vida seria suficiente? Onde mais nossos talentos podem ser bem vindos? Quais são as capacidades e potencialidades que poderíamos lançar mão para fazer um pouco mais do que já fazemos? 

O que estamos fazendo com nossos talentos? O que sabemos e podemos fazer e deixamos de lado ou para depois por estarmos apenas cuidando de nossas vidas? 

O que a alma nos pede no transcorrer da vida e por estarmos ocupados com a nossa rotina, fazemos ouvidos moucos? Seria possível resumir nossos dias em acordar, cuidar das nossas atribuições sem refletir sobre o real significado do que fazemos, do que somos, de nossa missão? 

Sem pensar na semente de sonho que foi plantada em nossas almas? E nos talentos que desenvolvemos para transformar esses sonhos em realidade? 

É claro que, muitas vezes, circunstancias nos fazem tomar decisões que nos afastam das possibilidades de colocar nossos genuínos talentos no mundo. Mas não seriam provas para que saibamos o quanto somos fortes e capazes? Quais são os nossos sonhos abandonados? Quais escolhas deixamos para trás? O que por medo e insegurança deixamos de fazer? 

Sei que muitos sacrifícios nos são exigidos, muitas vezes trabalhamos somente motivados pelos salários, pois não é fácil dar conta da vida, pagar as contas, fazer reservas para o futuro, realizar os pequenos sonhos. 

Mas, às vezes, há um clamor interno para que mudemos de atividade, mas por receio e acomodação não arriscamos novos passos e com isso perdemos oportunidade de desenvolver talentos e colocá-los a serviço do mundo. 

Por estarmos numa grande caminhada de desenvolvimento, imagino que muitas dificuldades são colocadas em nosso caminho, não para nos atrapalhar a jornada, e sim para nos fortalecer e nos manter no caminho. E os talentos e sonhos são as ferramentas que devemos lançar mão para afastar essas pedras, permitindo que sigamos adiante. 

Mas, é fundamental que dediquemos tempo e esforço para compreender quais são nossos talentos. Aristóteles disse: “Onde cruzam meus talentos e paixões com as necessidades do mundo, lá está o meu lugar”. 

E quando encontramos esse lugar e nele usamos nossos talentos, parece que eles se multiplicam. Se os guardamos, acontece o inverso: atrofiam como se fosse um músculo privado de atividade. 

Mas, qual seria a relação dos nossos talentos com nossos sonhos? Inclusive aqueles abandonados ou aqueles não percebidos? 

Gostaria de substituir a metáfora da moeda para a da semente e perguntar: em que solo estamos plantando nossas sementes. 

Não seriam nossos sonhos reflexos dos contratos que fizemos antes de reencarnar nessas vidas. Não seriam os sonhos as sementes que temos que tirar da dormência e procurar terra fértil para que germinem? 

Penso que é urgente refletir sobre onde estamos jogando nossas sementes: num fértil solo ou sobre o cimento? 

E se pensarmos não somente em nós? E se ampliarmos nossa reflexão além das nossas existências e pensarmos na humanidade? Se nossa realização está diretamente ligada ao bom uso dos talentos não seria equivocado afirmar que ao nos realizarmos o mundo também é beneficiado? 

Eu acredito, que quando trabalhamos, seja para uma empresa, seja para um projeto, em casa, seja voluntaria ou remuneradamente, utilizamos nossos talentos, mesmo que tenhamos pouca consciência disso. Eles vão à pratica no dia a dia, quando executamos as tarefas a nos atribuídas e também, quando cuidamos para manter relações saudáveis com os outros, assim como o fazemos para compreender o que nos conecta verdadeiramente aquele trabalho. 

Mas, os talentos não se revelam somente no trabalho. Eles podem ser necessários em tantas outras situações da vida e para isso é preciso atenção, desapego e dedicação. Olhemos a nossa volta, o que podemos fazer com o coração entregue para contribuir para o desenvolvimento da humanidade?

Se sei escrever, esse é um talento.
Se sou bom ouvinte, esse é um talento.
Se sou perspicaz, esse é um talento.
Se sou organizada, esse é um talento.
Se sou questionadora, esse é um talento.
Se sei plantar, esse é um talento.
Se sei limpar a casa, esse é um talento.
Se sei informática, esse é um talento.
Se sei dirigir, esse é um talento.
Se sei contar histórias, esse é um talento.
Se sei cozinhar, esse é um talento.
Se sei costurar, esse é um talento.
Se sei fazer contas, esse é um talento.
Se sei ensinar, esse é um talento

Sim, há muitas formas de manifestar nossos talentos. A pergunta que fica é: como posso colocá-los a serviço do mundo? Como posso ganhar a vida e meu sustento com brilho nos olhos? Como posso doar um pouco do que já recebi? Como posso identificar o que já recebi? 

Como saber se não estou enterrando meus talentos? Como saber se não estou jogando minhas sementes de sonho no cimento? 

Não há resposta pronta, tampouco, definitiva. Mas, se cada um de nós, com coragem e amorosidade, olhar para a própria história, provavelmente encontrará fios que precisam ser reconectados, sonhos que desejam ser realizados e talentos adormecidos pedindo para serem acordados. Não importa se, com nossas habilidades, vamos ganhar nosso pão ou simplesmente doar ao mundo algo bom, o que vale é não enterrar nossos talentos e transformá-los em frondosas arvores que oferecem sombra e alimento para a humanidade. 

Um comentário:

  1. Gostei da parabola, mas o seu comentario enriqueceu,sei que tenho muitos talentos,e me sinto feliz em fazer outros felizes por conta desses talentos e realmente quanto mais faço mais eles se multiplica.Parabens!

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